quinta-feira, dezembro 07, 2006

A vida é injusta!
A vida é injusta porque não me deixa viver. A vida deixa-me ir vivendo.
A vida é injusta porque brinca comigo.
A vida é injusta porque faz-me sentir coisas que eu já tinha sentido. A vida é injusta porque lembra-me de coisas que eu já tinha esquecido. A vida é injusta porque faz-me viver coisas que eu já tinha vivido.
A vida é injusta porque não me deixa esquecer uma mera saia branca, uns simples olhos azuis, um tímido olhar, um sorriso de merda que me matou, um momento que me marcou...
A vida é injusta porque essa saia branca já não existe, porque esses olhos azuis já não os vejo, porque esse olhar já outros o viram, porque esse sorriso de merda não me enterrou, porque esse momento não me largou...
(A vida é injusta porque tu não sabes desta saia branca, nem destes olhos azuis, nem deste olhar, nem deste sorriso, nem deste momento que eu estou a falar. A vida é injusta não é por te teres esquecido é por nunca teres sabido.)
(...)
A vida é injusta porque brinca comigo e quando isto acontece - são coincidências, é o destino dizia eu. Coincidências? Destino? A vida é injusta por que isto são tretas; merdas que digo para me resignar, merdas que digo para não me doer.
A vida é injusta porque trata-nos como nós merecemos: trata-nos com desdém, com desprezo, com estupidez. Porque nós somos estupidos. Porque nós acreditamos em coincidências, no destino. Porque nós acreditamos num Todo-Poderoso que vai resolver tudo - como se Ele se importasse com a nossa pequenez.
A vida é injusta porque nós não acreditamos em nós. A vida é injusta porque nós não fazemos, apenas pensamos.
A vida é injusta porque nós nunca percebemos que ela é injusta porque tem que o ser. A vida é injusta porque só nos lamentamos dela.
A vida é injusta porque é e ponto final

terça-feira, novembro 28, 2006

"Desejo ser um criador de mitos, que é o mistério mais alto que
pode obrar alguém da humanidade."

Fernando Pessoa

«(...) E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa especie de extase cuja natureza não conseguirei definir.
Foi o dia triumphal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. (...)»
Fernando Pessoa

quinta-feira, novembro 09, 2006

Quando te chamo de Lisboa

Chamar-te- hei coragem.
Quantas aventuras por ti passaram?
Quantos heróis em ti atracaram?
De quantos sonhos foste passagem?
Tu que guardas a História:
No teu chão, no ar,
Nas pontes da memória,
Nos aromas de Mar.
Chamar-te-hei linda.
Vendo banhar-te no Tejo;
Vendo tuas colinas seios vejo;
Vendo-te a ti vejo beleza ainda.
Há em ti tanta beleza:
Nas tuas casas, na tua gente,
na tua idade, na tua pureza,
no teu espírito alegre e contente.
(...)
Chamar-te-hei princesa
do Mediterrâneo, do Mundo.
Com um ênfase mais profundo
que o da própria certeza.
Por tudo o que simbolizaste!
Por tudo o que amaste!
Por todos que te cruzaram!
Por todos que te amaram!
E passas e não ficas,
e mudas e não te alteras,
e choras e não ris,
e morres e não vives.
Agarra-te!
Hão de haver palavras
no teu olhar
hão de haver palavras
no teu sorriso
hão de haver palavras
hão de haver palavras
no teu andar
hão de haver palavras
na tua boca
no teu coração
hão de haver palavras
hão de haver palavras
nas tuas mãos quando as abrires
hão de haver palavras
hão de haver palavras
hão de haver palavras
entre Nós