tag:blogger.com,1999:blog-374255452024-02-28T10:33:42.619+00:00Re_flexusÁlvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.comBlogger55125tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-27832395577855540942010-10-01T03:29:00.002+01:002010-10-01T03:31:44.610+01:00Requiescat in PaceO que é a poesia?<br />A poesia também poderá ser horror?<br />A poesia poderá ser escura, obscura, sombria,<br />Dor, tristeza, morte…<br /><br />Não há poesia no corpo, sem vida, que se atira à terra,<br />Que se lança em chamas ao mar?<br /><br />Não me digam que um homem,<br />Quando enterra outro homem,<br />Com as próprias mãos,<br />Não está a fazer a poesia,<br />Não está a escrever um poema.<br />Não me digam que a terra que se tira,<br />E que se volta a pôr,<br />Não é encher aquilo que foi absoluto,<br />Por aquilo que é vazio.<br />Não me digam que a terra que escorre por entre os dedos,<br />Não é como a água do rio onde vamos mergulhar.<br />Não me digam que as lágrimas que caem do rosto de uma vida,<br />Não são elas um alimento da terra,<br />Não são elas como um regar de uma flor.<br />Não me digam que pôr pedra sobre pedra,<br />Não é construir o altar que abriga as nossas memórias - <br />Como um porto abriga um barco à deriva.<br /><br />Poderá isto ser poesia?<br />Poderá a morte ser cantada?<br /><br />E se a terra for o sangue do mundo…<br />E se o caixão que se enterra ficar sobre outro caixão,<br />E outro caixão em baixo, sobre outro caixão,<br />E outro caixão…<br />E ainda outro, <br />E outro… Até chegar ao centro do mundo.<br /><br />E se for este o único caminho que resta ao homem<br />Para alcançar o coração do mundo?<br /><br />Não estará ele a escrever poesia?Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-13533063904968037402010-07-21T02:19:00.002+01:002010-07-21T02:26:40.739+01:00Casa em RuínasParedes velhas e rachadas<br />Feridas na alma e na pele<br />Soalho calcado e pálido<br />Pisado e sem cuidado<br />Janelas quebradas<br />E vidros no chão<br />Lágrimas caídas<br />De um rosto em vão<br />Uma escada serpente<br />De ferro enferrujado<br />Degraus doridos<br />Ossos partidos<br />Um corpo há muito caducado<br />Porta entaipada<br />Tabiques de pesadelo<br />Pregos que amarram sonhos<br />Coração que não se solta<br />E alma que não se desprende<br />Voz que se cala lá fora<br />Voz que grita cá dentroÁlvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-18166197420906761192010-05-21T03:18:00.001+01:002010-05-21T03:21:27.429+01:00Há muito que penso na loucura.<br /><br />Se na sua essência se levanta a guerra<br />E dorme a paz?<br />Ou se no seu coração<br />Se escuta a melodia da lira de Orfeu?<br />E que som terá a loucura:<br />Um suspiro ensurdecedor<br />Ou um grito omisso?<br /><br />Se a filosofia ensina a ver que as coisas<br />Não são verdadeiramente coisas;<br />E se a poesia existe para sabermos que as coisas<br />São muito mais do que coisas.<br />Então o que ensina a loucura?<br />Que quando se olha só se vê o que lá está<br />E não o que poderia lá estar?<br />Que não há uma montanha entre a realidade<br />E o sonho?<br />Que a linguagem não a serve<br />E só o sentimento a pode exprimir?<br /><br />Um dia que a loucura me ache<br />Quero que esta lucidez me encontre<br />Para que saiba que me perdi num hoje<br />Que não foi ontem,<br />E que nunca será amanhã.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-27338476259463980542010-04-02T02:16:00.003+01:002010-04-12T01:35:08.930+01:00A moda das calças ao fundo do cuUm dia quiseram saber qual era o meu estilo…<br />A que matilha de aperaltados eu pertencia…<br />Mostrei os dentes,<br />Amarelados pela raiva de tal inquisição.<br /><br />Mas porque raio terei eu que ter um estilo?<br />O meu estilo é não ter um estilo.<br />É não usar o que todos usam.<br />É não ser o que todos são. <br /><br />Mas porque hei-de eu usar uns óculos de massa<br />Se não tenho qualquer problema em ver<br />O que está diante de mim?<br /><br />Mas porque hei-de eu vestir uma camisa,<br />Com umas calças e uns sapatos a condizer.<br />Se dentro de mim há tanta coisa que não condiz?<br /><br />Mas porque hei-de eu ter cores a combinar,<br />Se todo eu só tenho uma cor?<br /><br />Mas porque hei-de eu ter as calças ao fundo do cu,<br />Se o cinto que me obrigam a trazer é tão apertado?<br /><br />Caramba!<br />Porque é que eu tenho que estar bem-vestido?<br />Ou mal-vestido? Ou mesmo vestido?<br />Se as coisas mais importantes da vida se fazem sem roupa,<br />Ou sem qualquer preocupação pela roupa.<br /><br />Eu nunca vi ninguém nascer vestido.<br />Nem tão pouco vi um morto inquietar-se com o seu vestir.<br />Nunca vi ninguém preocupado com a roupa no amor.<br />Mas já vi tirar a roupa à pressa no amor.<br /><br />E uma vez sem roupa, <br />Onde é que eles têm o estilo?<br />Nos óculos de massa?<br />Nas camisas, nas calças e nos sapatos <br />entretanto aventados para baixo da cama?<br /><br />Não, eu não tenho as calças ao fundo do cu.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-728887158559300892010-03-12T04:10:00.005+00:002010-03-12T04:41:31.364+00:00Na taberna do AbelA taberna do Abel era muito dada a isto mesmo:<br />A estas discussões que levam as pessoas fora de si,<br />Sem elas irem a lado nenhum.<br /><br />Estava sem a pândega do costume - É certo.<br />Mas os dois velhos, que encostavam o bandulho ao balcão, <br />Faziam questão de a encher com os grunhidos e caretas <br />De dois homens num duelo de espadas.<br />Mas, este era sem espadas, era sem pistolas.<br />As armas...<br />As armas eram os murros no balcão, os perdigotos,<br />E as onomatopeias de dois animais irados que<br />Se encaram no meio da natureza.<br /><br />Esbracejavam - como se tivessem a orientar o tráfego.<br />Mas o único trânsito naquela taberna eram os seus pensamentos,<br />Que oram vinham da esquerda,<br />Ora vinham da direita.<br />E todos eles chocavam no cruzamento.<br />Embatiam uns nos outros e nenhum ficava em pé.<br />Não concordavam que Alfama está depois do S. Jorge e antes do Tejo.<br />O único aceno de concórdia dos dois:<br />Era o abanar de cabeça para cima e para baixo <br />Cada vez que levavam ao fundo <br />Uma medida da aguardente do Abel.<br />Batiam rudemente o fundo do copo no balcão,<br />E repetiam num tom licoroso e áspero:<br />“Boa pinga, Abel”!<br /><br />A páginas tantas,<br />Já o fumo dos mata-ratos os escondia,<br />E só palavras de lá saiam…<br />Um falava de um certo Manel Perdigueiro,<br />Que cantava os melhores fados de Lisboa.<br />O outro atirava com um tal de Zé Estorninho,<br />Que era o rouxinol das casas de fado do bairro dele.<br />Um dizia que nunca houve um jogador da bola<br />Como o Rui Cagadinha.<br />O outro ripostava com os remates do Jorge Papagaio,<br />Que eram autênticos tiros de canhão.<br />Um recitava uns versos de um Rogério Canela,<br />Dizendo sempre que era um poeta tão grande<br />Que ele nem sabia quão grande ele era.<br />O outro cantava umas rimas de um tal Francisco Corisco,<br />E dizia ele que eram rimas tão bem rimadas<br />Que depois de ditas nunca mais eram olvidadas.<br /><br />Nesse mesmo instante, <br />Um homem bem aprumado, de traços baixos, <br />Cara pequena, óculos tortos sobre o nariz,<br />E um chapéu sem vida que lhe roubava o coruto da cabeça,<br />Irrompe pela taberna adentro e fá-los suspender a altercação.<br /><br />E no momento em que o homem levou o santo graal à boca:<br />Uma claridade maquinal entrou na taberna sem pedir licença. <br /><br />Os velhos atiraram-se ao chão, <br />Como soldados que debaixo do fogo inimigo <br />Se aventam para as trincheiras.<br /><br />Mas não era perigo, nem trovoada.<br />Era uma fotografia tirada à pressa para apanhar<br />O copo na mão do intrigante homem ao balcão.<br /><br /><a href="http://luminescencias.blogspot.com/FP_1929_adega%20de%20Abel%20Pereira%20da%20Fonseca.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 295px; height: 416px;" src="http://luminescencias.blogspot.com/FP_1929_adega%20de%20Abel%20Pereira%20da%20Fonseca.jpg" border="0" alt="" /></a>Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-84256680865199210282010-02-01T03:31:00.002+00:002010-02-03T19:52:30.970+00:00Às vezes...Às vezes penso em mim e no que sou.<br />Às vezes penso em todos nós e no que somos.<br /><br />Pergunto-me:<br />Se o mundo pára quando morremos?<br />E por quanto tempo parará o mundo quando eu morrer?<br />Quando tu morreres?<br /><br />Às vezes penso que somos uma máquina.<br />Vejo as rodas,<br />Vejo a corrente que as envolve,<br />Vejo as alavancas,<br />Vejo os operários que vêm só porque somos a máquina<br />Que têm que olear.<br /><br />Às vezes até vejo a fábrica<br />Vejo o mundo.<br /><br />Mas, às vezes…<br />Às vezes não vejo máquina alguma.<br />Não vejo operários nenhuns.<br /><br />Às vezes só vejo uma roda,<br />Uma corrente.<br />Às vezes vejo que sou só um dente dessa roda;<br />E quando um dente desaparece a roda não pára,<br />A corrente não pára.<br />A fábrica não pára.<br /><br />O mundo não pára.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-21906988922644815542010-01-15T02:38:00.002+00:002010-01-15T02:45:39.718+00:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK-39vZf6DuVVOtwd43dWC02jib2iLCzTr2KoXfR3x9o5yw8K1lCsfb-gLxmHIWhwgz4YPFBAz-Tu2sWO0GQCS1fMNwhQChpi9c1GTQIqcGGqm0SAxh4hb1LUPumoUw9Q7QIZi0A/s400/mundo.jpg"><img style="TEXT-ALIGN: center; MARGIN: 0px auto 10px; WIDTH: 320px; DISPLAY: block; HEIGHT: 320px; CURSOR: hand" border="0" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhK-39vZf6DuVVOtwd43dWC02jib2iLCzTr2KoXfR3x9o5yw8K1lCsfb-gLxmHIWhwgz4YPFBAz-Tu2sWO0GQCS1fMNwhQChpi9c1GTQIqcGGqm0SAxh4hb1LUPumoUw9Q7QIZi0A/s400/mundo.jpg" /></a><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div></div><br /><div>O mundo aguça-me a curiosidade.<br />As pessoas despertam-me a mais absoluta indiferença,<br />A mesma que elas têm por mim.<br /><br />Quando as escuto não as quero ouvir,<br />Aceno com a cabeça em sinal de concordância,<br />Mas não acredito em nada.<br />Sinto o mais total desapego pela mundanidade do mundo.<br /><br />Tenho sempre vontade de estar no outro lado do passeio<br />Quando sei que vou encontrar velhos conhecidos.<br />Mas nunca atravesso.<br />Prefiro anuir a uma conversa de superfície<br />A ter que atravessar pelos perigos de uma estrada.<br />É uma ausência de coragem que me percorre todas as veias<br />Do meu corpo.<br /><br />Por vezes, esforço-me por passear na vida,<br />Por caminhar ao lado das pessoas,<br />Por discutir com elas a injustiça da vida,<br />A muita ou pouca chuva que cai,<br />O muito ou pouco calor que está…<br />Mas subitamente me assola a mais terrível tempestade<br />De tédio, indiferença, tristeza, abulia…<br />E então recolho-me a mim próprio,<br />Encerro-me na minha própria carapaça.<br /><br />E rodeio-me de palavras ditas a mim próprio.<br /><br />Contemplo o mundo e a sua quotidianidade,<br />Querendo como nunca estar vivo<br />Para estar nele por inteiro,<br />E não fazer parte dele por nada.<br /><br />É assim que a felicidade atraca em mim<br />Como um navio numa utopia longínqua.<br />E o primeiro salto que dou para pisar terra,<br />É o primeiro passo que dou para alcançar um<br />Sonho.</div>Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-44567692173064988872009-11-20T03:11:00.002+00:002009-11-20T03:20:38.337+00:00I<br /><br />Poeta do não lugar<br />Que se esconde na indefinição<br />Vivendo na incerteza<br />Usa as palavras na folha<br />Apenas como Deus<br />As nuvens no céu<br />Massas disformes<br />Feitas do nada<br />Da matéria das sombras<br />E dos medos<br />Coisas<br />Que vivem apenas<br />Para serem sensações<br />Provocarem efeitos<br />Sem nunca terem tido causa<br /><br />II<br /><br />Poeta da montanha mágica<br />Da maior de todas ao longe<br />E mais pequena ao perto<br />Aonde só vivem riscos<br />E pontos de interrogação<br />Sinais<br />Que apenas mancham as folhas<br />Como grãos de chuva<br />Mancham os telhados<br />Caem com tanta força<br />Que quando caem já nada são<br />Desaparecem<br />Sem deixar um único resquício<br />Sem nunca ninguém perguntar<br />Onde estãoÁlvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-28493621365405986192009-07-24T00:49:00.001+01:002009-07-24T00:50:21.766+01:00Quando nasce uma criança<br />Nasce uma flor<br />Nasce um nome<br />Uma palavra de pernas para o ar<br /><br />Quando sorri uma criança<br />Sorriem a limão os campos<br />Vêm as andorinhas voar baixinho<br />Vêm medir o nosso andar<br /><br />Quando brinca uma criança<br />É um gatinho que gira, mordisca a sua cauda,<br />Roda como o peão da nossa infância<br />Como um relógio de corda<br />Que dá corda ao mundo<br /><br />Quando chora uma criança<br />As nuvens fazem beicinho<br />As árvores mirram e as folhas tombam<br />Assim como as lágrimas do rosto menino<br /> da criança<br /><br />Quando parte uma criança<br />Acinzenta-se o céu e a natureza<br />A esperança torna-se areia<br />E o mundo um deserto<br /> De tristezaÁlvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-88787334200063178502009-06-12T02:15:00.005+01:002009-06-12T02:28:45.483+01:00<span style="font-family: times new roman;font-family:arial;font-size:130%;" >Não há louco sem delírio.<br />Não há utopia sem o sonho.<br />Não há razão sem a paixão.<br />Não há Dom Quixote sem Sancho Pança.<br />Não pode haver poetas sem poesia.<br />Não pode deixar de haver uma vida que não a queiramos viver.<br />Não haverá labirinto em que nós não nos queiramos perder.<br />Não haverá momento que não seja o nosso.<br />Não ficará vinho na mesa com amigos para o beber!<br /><br />À tua!</span>Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-73092514448925671292009-06-12T01:48:00.000+01:002009-06-12T01:50:00.085+01:00PorvirBailam os sinos na torre do tempo.<br />Apertam as veias o mecânico coração.<br />Fabrica-se o homem e o momento – <br />Uma criança que nasce na palma da mão.<br /><br />Entortam-se as linhas direitas do destino.<br />Tecem as moiras o ardiloso novelo,<br />Que fio a fio fica mais fino,<br />Mas ninguém consegue rompê-lo.<br /><br />E já no rio memórias são águas,<br />Que calmas e agitadas se vão tornar<br />Quando a barca avernal sobre elas passar.<br /><br />E assim, num incessante galgar de laudas, <br />Se folheiam todos os dias da vida<br />Para escutar a sentença há muito proferida.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-83302131727262987462009-04-18T01:24:00.008+01:002009-04-20T01:06:37.449+01:00Breve Tratado do SilêncioEu, o sonho e o pesadelo, a utopia e o verdadeiro, ordeno silêncio em torno de mim.<br />Promulgo a lei que fará soar a paz. <br />E assim se cumpra a minha vontade:<br /><br />Que se calem os benditos, os bem-aventurados e os felizes.<br />Que se calem os mestres, os sábios e os sabichões.<br />Que se calem os bem-sucedidos, os belos e os campeões.<br /><br />Não quero ouvir um pensamento ou um conselho.<br />Mesmo que caia no poço do erro, a minha vontade é lá cair.<br />É errar. Ouviram…<br /><br />Não quero saber das afirmações ou das certezas.<br />Mesmo que viva no reino da dúvida e da incerteza; <br />Mesmo que diga tolices ou mentiras - <br />Não há mal que daí nasça - é nelas que eu acredito.<br /><br />Sim, eu sei que muito penso e nada faço.<br />Mas também nunca desejei fazer nada.<br />Sim, eu sei que sou o trapo que não se veste.<br />Mas também não sou peça de arrebique.<br />Sim, eu sei que não sou ninguém.<br />Mas quem é que disse que eu queria ser alguém?<br /><br />Que falso pensarem que quero orientação.<br />Que não quero ser o que sou.<br />Que não quero estar aonde estou.<br />Sabem lá eles que o meu lugar é aonde eles não estão.<br />É à sombra da minha solidão.<br /><br />E assim decreto a lei do não escutar.<br />E dou vivas aos incautos, aos ridículos, aos loucos e aos vagabundos.<br />Dou vivas aos solitários, aos que não são de companhia, aos que querem a sua própria companhia.<br />Dou vivas aos que se querem ouvir, aos que não querem escutar, aos que se querem rir, aos que se querem calar.<br /><br />Dou uma pancada na mesa e termino a sessão.<br />E boto a baixo o licor<br />Que nasceu do silêncio e da solidão.<br /><br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhe29MwjIyyYBmLumu18fVR0nIJ3Ai2Yg_eO6kxUwaTwi-51_MfXr1-1TLChiHb-dWxkH6MsjrhwgSbVfcIaeOMUrRKS61A93fUXi_8mSQa5UF93kjgBUY51sGDZQe1Eai-wdLt/s1600-h/silencio.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 180px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhe29MwjIyyYBmLumu18fVR0nIJ3Ai2Yg_eO6kxUwaTwi-51_MfXr1-1TLChiHb-dWxkH6MsjrhwgSbVfcIaeOMUrRKS61A93fUXi_8mSQa5UF93kjgBUY51sGDZQe1Eai-wdLt/s320/silencio.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5325826504436584338" /></a>Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-85422596097118079832009-03-03T21:41:00.000+00:002009-03-03T21:47:35.155+00:00Um saco baloiça ao vento…<br />Parece cheio e pesado<br />Mas baloiça<br />Como se dançasse,<br />Como se fosse uma criança a brincar.<br />Mas não é uma criança,<br />É um saco que baloiça ao vento.<br />É só um saco.<br />Um saco pesado e cheio…<br />Eu admiro-o. <br />Admiro a plenitude das coisas,<br />A totalidade…<br />Está tão cheio que não posso com ele:<br />Quanto mais penso nele<br />Mais difícil é puxá-lo para mim.<br />Até uma criancinha podia com ele…<br />Mas eu não posso.<br />Não sou capaz de deixar de pensar nele.<br />Não sou capaz de deixar de pensar em como<br />Está cheio.<br />Cabe nele a medida do mundo,<br />Das estrelas e do sol.<br />Cabe nele o infinito, a vida,<br />O sonho.<br />Cabe nele a inocência de um sorriso<br />E a culpa de uma lágrima.<br />Cabe nele tanta coisa<br />Que só o vento pode fazer bailar<br />Um saco assim…Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-23641584270009832762009-01-18T23:11:00.003+00:002009-01-18T23:28:50.088+00:00Alentejo<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEionS10mjgGgWrCl22KHuw_5zFiqZmHJcZUhaG0ULCOgyHJgdacgbRW8eIZ6UyDBM3_VZSkzW9GmBx3Bh5uBP75fHDVb25NqP9rtKkw9Ai6cKMpum12TsaoTLy3xydby4MRyDEr/s1600-h/alentejo.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px; height: 235px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEionS10mjgGgWrCl22KHuw_5zFiqZmHJcZUhaG0ULCOgyHJgdacgbRW8eIZ6UyDBM3_VZSkzW9GmBx3Bh5uBP75fHDVb25NqP9rtKkw9Ai6cKMpum12TsaoTLy3xydby4MRyDEr/s320/alentejo.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5292779248029201266" /></a><br /><br /><br />Canta Alentejo canta<br />Molha a tua voz nas lágrimas do teu povo<br />Ergue bem alto o teu canto<br />Faz dele a bandeira<br />Que na onda do vento mostra o teu encanto<br /><br />Canta Alentejo canta<br />Sussurra as tuas mágoas às estrelas<br />E as tuas alegrias ao luar<br />Para que ele desperte o amanhã<br />Que nasce com o teu cantar<br /><br />Canta Alentejo canta<br />Rasga as planícies os vales os montes<br />O sorriso do teu triste país<br />Para que no acordar do dia<br />Cresçam os frutos da tua raiz<br /><br />Canta Alentejo canta<br />Canta a revolta dos teus homens<br />Para que brote da terra a esperança<br />Que alimente o coração<br />Dos que não anseiam de ti uma lembrança<br /><br />Canta Alentejo canta<br />Canta a desfolhada da tua alma<br />Na roda da fogueira dos meninos de outrora<br />Ouvem-se as antigas melodias<br />Entoadas pelos velhinhos de agoraÁlvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-50681928568783860482008-11-01T21:34:00.000+00:002008-11-01T21:36:52.917+00:00O meu RomanceQuero escrever um romance;<br />E ser eu todas as personagens.<br />Quero ser o tempo, o espaço, o suspense;<br />E ser o leitmotiv de todas as passagens.<br /><br />Quero ser um hábil prosador.<br />O moinho que roda a acção.<br />Quero ter uma pena de condor<br />Para esboçar o herói e desenhar o vilão.<br /><br />Quero salivar o ódio do enredo,<br />E respirar o amor da trama.<br />Quero fechar o livro em segredo<br />E tocar o infinito na minha cama.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-38410299482199160642008-09-02T00:16:00.002+01:002008-09-02T00:32:50.637+01:00<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhAzobULK43weX4I9qlyOMHwfuuPHhYIFKHi1UWKkm0e4CRtTjIf9HV1leoLt63rpaWtJNsSYkUSSQp6OxUY8glwL_51o2vHNL1RKLlZuG6yVBA2jibfucAWFKyp3vmk8_U4E8/s1600-h/acorrentado.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjhAzobULK43weX4I9qlyOMHwfuuPHhYIFKHi1UWKkm0e4CRtTjIf9HV1leoLt63rpaWtJNsSYkUSSQp6OxUY8glwL_51o2vHNL1RKLlZuG6yVBA2jibfucAWFKyp3vmk8_U4E8/s320/acorrentado.JPG" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5241199809054387938" /></a><br /><br />Tempos houve que o quiseram afundar.<br />Puseram-lhe a âncora e as amarras,<br />E mandaram-no para o fundo do mar.<br /><br />Porque não queriam que olhasse o céu,<br />Acorrentaram-lhe à carne as pedras<br />Que o imergiram no mar e no seu véu.<br /><br />Mas eles não sabem que o corpo ao morrer<br />Levanta o espírito à altura das estrelas,<br />E transforma a alma num Ser.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-39902764588166057972008-07-25T00:01:00.001+01:002008-07-25T00:04:19.624+01:00Uma BicaSentei-me à porta de um café do Rossio, <br />Numa tarde soalheira de primavera;<br />Numa daquelas tardes que passam<br />Sem se dar conta que passam.<br /><br />O sol caía sobre as mesas de vidro.<br />Mas o vento assobiava<br />E esgueirava-se pelas ruas,<br />Vinha desaguar à praça.<br />As pessoas dobravam-se<br />Pela força da corrente do próprio vento,<br />Quase que se ajoelhavam<br />Perante o petrificado Pedro.<br /><br />O olhar do sol era intenso, <br />O grito do vento era barulhento,<br />Mas o empregado ouviu o pedido – <br />Era uma bica, nem cheia, nem curta,<br />Nem escaldada, nem fria. <br />Era uma bica assim – assim –<br />E lá veio a bica.<br />Não tinha nata mas tomei-a de um trago só,<br />Porque é assim que bebo tudo:<br />Um trago só.<br />(Nunca penso no que as coisas são,<br />Somente penso no que elas foram…)<br /><br />Mas a bica não tinha nata,<br />E uma bica sem nata,<br />É um absinto sem álcool,<br />Quando se bebe não nos fica a estrelar<br />O céu-da-boca.<br /><br />Acenei ao empregado para lhe dizer<br />Que a bica não tinha nata.<br />Mas quando ele chegou não disse,<br />Não quis embaraçar quem tirou<br />Uma bica sem nata.<br />Porque um café que se preze<br />Tira uma bica com nata.<br />Mas ao pensar neste dogma<br />Enchi o peito<br />Da mais inquebrável ousadia,<br />E acenei ao empregado para lhe dizer<br />Que a bica não tinha nata.<br /><br />Veio o empregado mas também veio um amigo.<br />Pedi ao empregado: <br />Uma cadeira para este amigo, por favor.<br />Qualquer palavra que se troque com um amigo<br />Faz esquecer qualquer bica sem nata.<br /><br />Estica-me, este amigo, três dedos<br />Para me dar um aperto de mão.<br />E não me olha nos olhos.<br />Diz-me que está com pressa,<br />Que tem que ir.<br />Tão depressa lhe dei as boas-vindas<br />Como as boas-idas…<br />Não lhe disse,<br />Mas não gosto que não me apertem a mão.<br />Ora um aperto de mão, <br />É um aperto de mão.<br />A força de um aperto de mão é igual<br />À soma do respeito mais a afeição.<br />Eu apertei-lhe a mão.<br /><br />Enfim, resfriou a tarde com o passar da hora.<br />Acenei ao empregado<br />Para lhe pedir a conta e um lápis.<br />Paguei mas deixei um escrito:<br /><br />Não gosto de uma bica sem nata.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-2586412573653919992008-07-09T23:26:00.007+01:002008-07-10T02:51:14.568+01:00"Ecce Homo"<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhywIwqnO0H96zo6nyS37-sz_SnS4nN708fOU7Wsia0b2f94-iC4PvAapqRXZnkmhiJznMdolYWRzC7pCctDsHT3_ywN0-qgL1Nqh9zXjqmPSrBN28lJfgK84GeK3V1OA6-cMw6/s1600-h/CaravaggioEcceHomo.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhywIwqnO0H96zo6nyS37-sz_SnS4nN708fOU7Wsia0b2f94-iC4PvAapqRXZnkmhiJznMdolYWRzC7pCctDsHT3_ywN0-qgL1Nqh9zXjqmPSrBN28lJfgK84GeK3V1OA6-cMw6/s320/CaravaggioEcceHomo.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5221196768696985234" /></a><br /><a href="bp2.blogger.com/.../s400/CaravaggioEcceHomo.jpg"></a><a href="bp2.blogger.com/.../s400/CaravaggioEcceHomo.jpg"></a><br />Fecho a porta<br />A mim mesmo.<br />A natureza morta<br />Planto-a no meu leito,<br />Assim em segredo, <br />Para que esconda cá dentro o medo<br />De saber que o que recuso e aceito:<br />É o cessante germinar de um coração<br />Imperfeito!<br /><br />(Já sinto os ossos a quebrarem<br />E os nervos a secarem.)<br />Abandono então as ruínas do meu ser<br />E vejo a minha carne apodrecer.<br /><br />E eis-me aqui nu e cru,<br />No mais puro estado natural<br />Que já findou.<br />Mas sabedor, agora,<br />Que a pobre doente planta que murchou<br />Era, afinal, a mais sã e dura raiz<br />Que Deus na terra plantou.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-72667890441259625562008-06-30T01:40:00.003+01:002008-06-30T01:59:06.178+01:00Amanhecer<a href="http://www.monetalia.com/paintings/large/monet-impression-sunrise.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.monetalia.com/paintings/large/monet-impression-sunrise.jpg" border="0" alt="" /></a><br /><br />Quando as badaladas<br /><br />Do relógio dourado soam,<br /><br />Também soam por ti.<br /><br />Gritam o teu nome bem alto<br /><br />Para que acordes com um sorriso<br /><br />E te levantes com um salto.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-55328287570387592492008-06-16T22:55:00.000+01:002008-06-16T22:57:57.574+01:00ImperfeiçãoVem agora à margem da lagoa<br />Ver na água o céu pintado.<br />Põe o teu corpo sobre a folha<br />E vê o teu rosto desenhado.<br /><br />Vê como o céu te espelha,<br />Se acaso quiseres encontrar<br />Em cada letra uma estrela;<br />E em cada cometa um olhar.<br /><br />A meia-lua sê tu inteiro.<br />Sê a palavra e a imagem,<br />A utopia, o verdadeiro.<br /><br />Sê toda esta ideal paisagem.<br />Faz de ti o meu fiel companheiro<br />E anda comigo nesta viagem.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-79745861367395971812008-06-05T20:05:00.002+01:002008-06-05T20:14:29.854+01:00IstoNão sou mais coisa que qualquer coisa,<br />Mas sou a coisa mais coisa que conheço<br />Pois a coisa que conheço não é coisa – <br />É uma ideia de uma coisa.<br /><br />A coisa que sou é um conceito.<br />E assim digo, sem saber nada,<br />Que sou um conceito sem conceito;<br />Um termo sem termo;<br />Uma palavra sem palavra;<br />Um pensamento sem pensar;<br />Uma sensação sem sentir;<br />Uma vida sem viver<br /><br />Um ser sem Ser!Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-53752993752181693822008-05-25T22:40:00.005+01:002008-05-25T22:58:49.265+01:00O meu amigo Jack Raven<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgneITL9b5OZBZKKUH3FgQXD2owE-ILLXdN_w5wXty2fpzeMDyFHNAhLuFMQfz18MD_Gmx09dFZS8KSQU6wWcOTZnfwZ8kyDSBs6pbEdz1U33Ukm8QNr1quC3pd_bqjgHtotkCV/s1600-h/Raven.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgneITL9b5OZBZKKUH3FgQXD2owE-ILLXdN_w5wXty2fpzeMDyFHNAhLuFMQfz18MD_Gmx09dFZS8KSQU6wWcOTZnfwZ8kyDSBs6pbEdz1U33Ukm8QNr1quC3pd_bqjgHtotkCV/s320/Raven.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5204436995941893554" /></a><br /> (riahills.blogspot.com)<br /><br />O Jack Raven é muito meu amigo.<br />Jack Raven conheceu-me há seis luas atrás,<br />Mas Jack Raven foi sempre meu amigo,<br />Ainda o mundo não existia e já o Jack Raven dizia que era<br />O meu melhor amigo!<br />(Aliás, eu mesmo não sei quem seria<br />Se não fossem os seus sábios conselhos;<br />Se a sabedoria tivesse um rosto<br />Esse rosto só poderia ser o de Jack Raven.)<br />O Jack Raven jamais me deixaria ficar mal<br />Em qualquer disputa ou em qualquer lado.<br />Porque Jack Raven não é de um lado,<br />É de todos os lados.<br />O meu amigo Jack Raven é médico, <br />Psicólogo, psiquiatra, terapeuta, enfermeiro,<br />Bombeiro, advogado, politico, piloto de automóveis,<br />Piloto de aviões, professor e cozinheiro...<br />O meu amigo Jack Raven nunca me cobrou dinheiro<br />Para me analisar.<br />O meu amigo Jack Raven só queria<br />Algumas gotas da minha poesia.<br />O Jack Raven e eu <br />Fomos devotos de todas as festas:<br />Jack Raven enchia os copos<br />E eu bebia;<br />Jack Raven trazia fumos<br />E eu inalava;<br />Jack Raven jogava damas<br />E eu aprendia.<br />Jack Raven sabia da minha inspiração<br />E eu o escutava<br />O meu amigo Jack Raven levou-me ao cais<br />Da minha vida,<br />Acenou-me quando eu, <br />Na barca,<br />Dele me despedia.<br />O meu amigo Jack Raven comprou comigo<br />O meu sonho de ser livre um dia!Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-13078709200757197032008-05-09T01:36:00.001+01:002008-05-09T01:39:24.670+01:00A missaAbate-se sobre a igreja o meu sorriso<br />Três raios de sol<br />Que embatem mesmo na sombra da porta.<br />Da sombra do vulto o meu reflexo <br />Dois cometas<br />Que abrilham os olhos de um pobre ancião.<br />O fumo do cigarro de um homem é o nevoeiro<br />Cortado pelo meu olhar vindouro<br /><br />E esta nuvem de cores levita até ao vitral,<br />Encolheu-se multiplicou-se para passar<br />E agora são infinitas gotinhas cada uma com sua cor<br />Que se precipitam sobre os fiéis.<br /><br />E cada um canta <br />Cantam com a minha voz<br />Olham com os meus olhos<br />Sorriem com o meu sorriso<br />Oram com a minha fé<br />Sentem com o meu coração.<br /><br />Eis que uma menina pula para o altar<br />Traz com ela uma coroa<br />Uma coroa de princesa ela a menina<br />Que já morde a bolachinha que o padre lhe dera...<br /><br />Na minha face toca o padre<br />E agora o padre sou eu<br />Benzo-me salpico-me<br />De água benta,<br />Gotinhas que ora se espalham em mim<br />Ora humedecem todos os santos e o menino Jesus.<br />E eu sou todos os santos e o menino Jesus<br />E o padre os fiéis o altar<br />Os bancos a igreja o sino<br />As badaladas,<br />Que quando soam logo caiem<br />Inanimadas sobre a calçada sobre o lago de lágrimas<br />Das nuvens, <br />E todas elas são o meu rosto<br />Reflectido no lago.<br /><br />Mas tudo isto treme <br />Pela turbulência de uma buzina de automóvel<br />Que a grande velocidade vem lá,<br />Passa e molha-me a bengala <br />A parede o estrado de madeira a sombra o vulto<br />O cigarro as calças,<br />Enfurecido grito: Abrandar.<br /><br />Mas eu não abrando não paro<br />Conduzo como quiser o automóvel...Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-6252515155038771232008-04-21T23:35:00.005+01:002008-04-22T00:17:14.302+01:00Super-Homem<a href="http://www.45visigoth.com/img/Nietzsche_border.JPG"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 320px;" src="http://www.45visigoth.com/img/Nietzsche_border.JPG" border="0" alt="" /></a><br /><br /><br />Não tenho uma capa.<br />Voar também não consigo.<br />Do mundo conheço o mapa,<br />Da vida não sei o que digo.<br /><br />Nada faço que todos não façam,<br />Nunca faço ideia do que sou.<br />Nada sei que todos não saibam,<br />Nunca sei se devo estar aonde estou<br /><br />Não sou dono de coisa alguma.<br />Tenho buracos em todas as malhas.<br />Nada bebo que não seja espuma;<br />Nada como que não sejam migalhas.<br /><br />Não tenho nenhum relevo.<br />Não causo inveja a ninguém.<br />Não tenho qualquer enlevo,<br />E nem sei se sou alguém.<br /><br />Mas quando escrevo <br />Sou infinito e omnisciente,<br />Estou em todo lado,<br />E sou toda a gente...Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-37425545.post-41966876517029791962008-03-27T04:27:00.002+00:002008-03-28T01:16:44.737+00:00"Dubito Ergo Sum"Olho-me no espelho e vejo-me poeta. <br />E então sinto que sei tudo,<br />Sinto que sei o que sou,<br />Sinto que sou um poeta.<br />Mas quando saio à rua – a realidade abate-se sobre mim – <br />E percebo que as certezas, que tenho do que sou,<br />São nenhumas.<br />Sou um homem entre muitos homens.<br /><br />Procuro respostas no agitar das árvores,<br />No chão que piso,<br />No rosto das meninas que toco,<br />No sorriso dos velhos a quem cumprimento,<br />No céu que anseio almejar,<br />Na vida que me ensurdece,<br />No espectáculo do mundo que me cega e entorpece.<br /><br />Tento encontrar-me.<br />Tento encontrar-me nas rugas de um velho edifício;<br />Tento, por tudo, encontrar reflexos de mim nas ondas<br />Que me desgastam como um solitário rochedo.<br />Procuro escutar ecos da voz que tive<br />No uivo do vento, que me descobre o rosto<br />Que não possuo.<br />Anseio por encontrar resquícios das lágrimas<br />Que jorrei na calçada molhada da chuva.<br /><br />Investigo-me na vida, <br />Sabendo, no entanto, que só encontrarei o que sou<br />Na morte.<br /><br />Perco-me nos leitos do pensamento,<br />Escondendo-me o mais que posso da minha realidade.<br />E é, então, que cansado me vergo,<br />E me contento com as coisas,<br />Que se tornam coisas diante dos meus olhos.<br />Vejo e não intervenho.<br /><br />Tento pôr-me de fora mas sou arrastado para dentro;<br />Através da gargalhada de uma criança<br />E do riso sincero de um avô.<br />Tento ser indiferente aos cisnes do lago<br />Mas não deixo de ouvir o seu chapinhar.<br />Tento não sentir um abraço de uma avó ao neto<br />Mas sinto.<br />Tento não arrastar o olhar para a similitude de dois irmãos<br />Mas arrasto.<br />Tento não invejar o beijo encerrado de dois namorados<br />Mas invejo.<br />Tento não tactear a realidade do banco que me suporta<br />Mas não resisto.<br />Tento não sentir a sempre ingénua suavidade da relva aparadinha na palma da minha mão<br />Mas não ouso não sentir.<br />Tento não me encantar pela cor do céu<br />Mas dou-me completamente.<br />Tento fugir de tudo isto<br />Mas não consigo deixar de querer viver tudo isto.<br /><br />Procuro-me prostrado perante a circularidade do mundo,<br />Mas não sei se é aí que estou.<br />Forço a minha mão a não escrever sobre o que serei,<br />Pois o que sou está no andar<br />Deste carrossel momentâneo da vida.Álvaro Reishttp://www.blogger.com/profile/14709989129712791952noreply@blogger.com4