sexta-feira, outubro 01, 2010

Requiescat in Pace

O que é a poesia?
A poesia também poderá ser horror?
A poesia poderá ser escura, obscura, sombria,
Dor, tristeza, morte…

Não há poesia no corpo, sem vida, que se atira à terra,
Que se lança em chamas ao mar?

Não me digam que um homem,
Quando enterra outro homem,
Com as próprias mãos,
Não está a fazer a poesia,
Não está a escrever um poema.
Não me digam que a terra que se tira,
E que se volta a pôr,
Não é encher aquilo que foi absoluto,
Por aquilo que é vazio.
Não me digam que a terra que escorre por entre os dedos,
Não é como a água do rio onde vamos mergulhar.
Não me digam que as lágrimas que caem do rosto de uma vida,
Não são elas um alimento da terra,
Não são elas como um regar de uma flor.
Não me digam que pôr pedra sobre pedra,
Não é construir o altar que abriga as nossas memórias -
Como um porto abriga um barco à deriva.

Poderá isto ser poesia?
Poderá a morte ser cantada?

E se a terra for o sangue do mundo…
E se o caixão que se enterra ficar sobre outro caixão,
E outro caixão em baixo, sobre outro caixão,
E outro caixão…
E ainda outro,
E outro… Até chegar ao centro do mundo.

E se for este o único caminho que resta ao homem
Para alcançar o coração do mundo?

Não estará ele a escrever poesia?

1 comentário:

Paula disse...

O homem escreve poesia quando se torna humano, atento e sensível à realidade que o rodeia, que é ele e somos todos nós. Um abraço. Saudades de te ler...