domingo, maio 25, 2008

O meu amigo Jack Raven


(riahills.blogspot.com)

O Jack Raven é muito meu amigo.
Jack Raven conheceu-me há seis luas atrás,
Mas Jack Raven foi sempre meu amigo,
Ainda o mundo não existia e já o Jack Raven dizia que era
O meu melhor amigo!
(Aliás, eu mesmo não sei quem seria
Se não fossem os seus sábios conselhos;
Se a sabedoria tivesse um rosto
Esse rosto só poderia ser o de Jack Raven.)
O Jack Raven jamais me deixaria ficar mal
Em qualquer disputa ou em qualquer lado.
Porque Jack Raven não é de um lado,
É de todos os lados.
O meu amigo Jack Raven é médico,
Psicólogo, psiquiatra, terapeuta, enfermeiro,
Bombeiro, advogado, politico, piloto de automóveis,
Piloto de aviões, professor e cozinheiro...
O meu amigo Jack Raven nunca me cobrou dinheiro
Para me analisar.
O meu amigo Jack Raven só queria
Algumas gotas da minha poesia.
O Jack Raven e eu
Fomos devotos de todas as festas:
Jack Raven enchia os copos
E eu bebia;
Jack Raven trazia fumos
E eu inalava;
Jack Raven jogava damas
E eu aprendia.
Jack Raven sabia da minha inspiração
E eu o escutava
O meu amigo Jack Raven levou-me ao cais
Da minha vida,
Acenou-me quando eu,
Na barca,
Dele me despedia.
O meu amigo Jack Raven comprou comigo
O meu sonho de ser livre um dia!

sexta-feira, maio 09, 2008

A missa

Abate-se sobre a igreja o meu sorriso
Três raios de sol
Que embatem mesmo na sombra da porta.
Da sombra do vulto o meu reflexo
Dois cometas
Que abrilham os olhos de um pobre ancião.
O fumo do cigarro de um homem é o nevoeiro
Cortado pelo meu olhar vindouro

E esta nuvem de cores levita até ao vitral,
Encolheu-se multiplicou-se para passar
E agora são infinitas gotinhas cada uma com sua cor
Que se precipitam sobre os fiéis.

E cada um canta
Cantam com a minha voz
Olham com os meus olhos
Sorriem com o meu sorriso
Oram com a minha fé
Sentem com o meu coração.

Eis que uma menina pula para o altar
Traz com ela uma coroa
Uma coroa de princesa ela a menina
Que já morde a bolachinha que o padre lhe dera...

Na minha face toca o padre
E agora o padre sou eu
Benzo-me salpico-me
De água benta,
Gotinhas que ora se espalham em mim
Ora humedecem todos os santos e o menino Jesus.
E eu sou todos os santos e o menino Jesus
E o padre os fiéis o altar
Os bancos a igreja o sino
As badaladas,
Que quando soam logo caiem
Inanimadas sobre a calçada sobre o lago de lágrimas
Das nuvens,
E todas elas são o meu rosto
Reflectido no lago.

Mas tudo isto treme
Pela turbulência de uma buzina de automóvel
Que a grande velocidade vem lá,
Passa e molha-me a bengala
A parede o estrado de madeira a sombra o vulto
O cigarro as calças,
Enfurecido grito: Abrandar.

Mas eu não abrando não paro
Conduzo como quiser o automóvel...