sexta-feira, abril 02, 2010

A moda das calças ao fundo do cu

Um dia quiseram saber qual era o meu estilo…
A que matilha de aperaltados eu pertencia…
Mostrei os dentes,
Amarelados pela raiva de tal inquisição.

Mas porque raio terei eu que ter um estilo?
O meu estilo é não ter um estilo.
É não usar o que todos usam.
É não ser o que todos são.

Mas porque hei-de eu usar uns óculos de massa
Se não tenho qualquer problema em ver
O que está diante de mim?

Mas porque hei-de eu vestir uma camisa,
Com umas calças e uns sapatos a condizer.
Se dentro de mim há tanta coisa que não condiz?

Mas porque hei-de eu ter cores a combinar,
Se todo eu só tenho uma cor?

Mas porque hei-de eu ter as calças ao fundo do cu,
Se o cinto que me obrigam a trazer é tão apertado?

Caramba!
Porque é que eu tenho que estar bem-vestido?
Ou mal-vestido? Ou mesmo vestido?
Se as coisas mais importantes da vida se fazem sem roupa,
Ou sem qualquer preocupação pela roupa.

Eu nunca vi ninguém nascer vestido.
Nem tão pouco vi um morto inquietar-se com o seu vestir.
Nunca vi ninguém preocupado com a roupa no amor.
Mas já vi tirar a roupa à pressa no amor.

E uma vez sem roupa,
Onde é que eles têm o estilo?
Nos óculos de massa?
Nas camisas, nas calças e nos sapatos
entretanto aventados para baixo da cama?

Não, eu não tenho as calças ao fundo do cu.

2 comentários:

Anónimo disse...

http://www.ciberduvidas.com/pergunta.php?id=20677

Pandam não existe...

Álvaro Reis disse...

Obrigado pela observação!
Há que dizer, no entanto, que pandam poderia ser uma derivação portuguesa da palavra francesa pendant. Acontece, porém, que, foneticamente, pendant encontra-se mais próxima de pandã (ou mesmo de pandan, embora, o "portuguesismo" desta última forma, possa ser discutível).
Convirá também referir que a aproximação fonética não é uma regra que domine a formação e utilização de um galicismo, pois sobejam casos em que essa aproximação não se verifica (ex: camionette/camioneta).
Assim, pandã/pandam é meramente um galicismo não estabilizado, podendo ser usado consoante a inclinação linguística do falante, pelo menos até uma das formas ser "canonizada".
Antes de terminar, tenho que referir duas coisas que me vieram à memória.
Uma empresa de telecomunicações usou esta expressão pandam num anúncio (um pouco infeliz, na minha opinião. Mas que mostra como estas coisas funcionam).
A outra coisa que quero abordar tem a ver com o link que colocou aqui e com o facto de nele alguém dizer que era um galicismo dispensável. Para além de não concordar a análise linguística que é feita no site, tenho que dizer não compreendo como um galicismo pode ser dispensável. Nunca ouvi ninguém dizer que o Eça de Queiroz deveria usar espreguiçadeira, ou mesmo cadeira-longa, quando usava "chaise-longue".
Enfim, tudo isto para dizer que na literatura uma palavra vale mais pela intenção que dá ao texto, e não tanto pela forma como é escrita (pelo menos é esta a minha opinião).
Mais uma vez obrigado; e mudei a forma do galicismo que usei para ir ao encontro desse rigor que se quer não é... Mas sem alterar a intenção do texto...